quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Por quem fazemos?

Bom, já faz um bom tempo que não posto. Aliás, falando em tempo, lembro que não ando dispondo de muito para fazer muita coisa além do rotineiro. Que pena que o tempo é uma das únicas coisas que o dinheiro não compra, quem sabe eu pudesse financiar algumas horas de sono, ou parcelar alguns minutos para o meu próprio lazer, ou como se não bastasse, comprar algumas horas também para resolver aqueles tipos de coisas que ficam "por resolver", e que quando nos damos conta de que ainda não resolvemos, percebemos que o tempo que já passou, esgotou as possibilidades de resolver tal coisa. Pois é, quem sabe se o tempo pudesse ser comprado não resolveríamos uma boa parte dos problemas atuais de que ninguém consegue dar conta; se tempo é dinheiro, então compremos o tempo! Essa metamorfose ambulante que chamamos de mercado capitalista, que hoje precisa de x e amanhã precisará de y, mas ontem precisava de z, quem sabe tivéssemos tempo de colocar cada coisa dentro do seu próprio lugar, em um lugar onde nada tem o "seu próprio lugar". Ou quem sabe eu esteja viajando e nós estaríamos criando apenas mais uma mercadoria, que contribuiria apenas para tornar a nossa sociedade um pouco mais desigual do que já é, na medida em que o tempo acabaria sendo um privilégio para os que tem dinheiro; e mais uma insuficiência para os que não tem. Que ironia não, vejam só; já que tempo é dinheiro, quem tem dinheiro tem tempo, quem não tem dinheiro não tem nada, muito menos tempo, e no geral tem que trabalhar mais .. rs


De quanto tempo será que precisaríamos para consertar tudo o que já destruímos? Será que todo dinheiro do mundo compraria esse tempo? Será possível achar a cura para esse câncer que somos "nós"? Afinal somos frutos de um câncer mesmo, uma civilização que aprendeu a falar, escrever, sinalizar o que quer, deseja, necessita, aprendeu a brincar com fogo, e finalmente/infelizmente, aprendeu a DOMINAR. A partir desse momento, o que temos são só guerras atrás de guerras e a expansão desse câncer pelo mundo todo.
O fato é que, historicamente falando, desses últimos anos para cá, esse câncer vem se espalhando de maneira muito mais acelerada e agressiva, e nem os que "mais sabem" sabem bem ao certo até quando poderemos resistir a isso. Por conta disso "o importante é ser feliz" vêm sendo uma das máximas mais consagradas do nosso pensamento contemporâneo, afinal são tantos fatores que podem resultar na morte de uns, muitos ou todos, que a solução acaba sendo "tocar um foda-se" e fazer de tudo para levar uma vida minimamente feliz. Já que ser feliz no mundo capitalista implica ter dinheiro, então eu mudaria essa máxima para "o importante é ter dinheiro para ser feliz", e seja o que Deus quiser das gerações posteriores.
Digo isso tudo com a frieza de um niilista, e, ao mesmo tempo, dialéticamente, com a aflição de um romântico. Sabendo que, esse tipo de coisa exposto desta maneira provoca grande inquietação em muitos dos que lêem, porém, a todos que se inquietarem, saibamos que somos uns no meio de bilhões, percebendo o quão problemático é mudar o ritmo de uma música que bilhões dançam. Quando caímos novamente em si, já estamos novamente pensando no preço do quilo do tomate na feira.


Tudo vive em perfeito equilíbrio. Equilíbrio mantido por uma ideologia que nos permite trabalhar, vender, ganhar comissões em cima de vendas, ser gratificantemente reforçado por essas comissões e brigar muito por elas. Tudo ocorreu como deveria, o vendedor está fazendo a parte dele para conseguir encher o seu bolso, e consequentemente encheu o bolso também de seu superior, que encheu o bolso de seu superior e assim por diante nas hierarquias do fluxo organizacional. Assim as classes se mantém. Cada classe deve defender seus interesses acreditando que está primordialmente defendendo seus próprios interesses, quando na verdade está defendendo os interesses da classe superior, que por sua vez, também defende os interesses de sua classe superior acreditando que defende primordialmente os seus próprios. Assim caminha até a classe dominante. A classe dominante somente necessita saber DOMINAR. A partir dai que se definem as características que cada classe deve ter. Vivemos dentro de 2 tipos de dominação; a dominação política e a dominação ideológica. A dominação política geralmente é mais fácil de se atingir. Conseguimos obter algum acesso (mesmo que esse acesso seja apenas o que alguém está querendo mostrar) ao que está acontecendo. Vejamos; nossa constituição nos vê como cidadãos participativos que tem direitos e podem exercer sua força participativa para lutar pelos seus direitos. Quando nós acreditamos nisso, concretiza-se a execução da dominação ideológica, na medida em que acreditamos estar participando e defendendo nossos interesses perante à lei, quando na verdade estamos apenas escolhendo quem irá defender seus interesses em nosso nome.


E assim, todos nós, estamos a cada novo movimento gastando dinheiro. Logo quando acordamos, já começamos a gastar dinheiro quando acendemos a luz do nosso quarto. Daí por diante, o decorrer do nosso dia pode dividir-se em "momentos que gastamos dinheiro" e "momentos que ganhamos dinheiro". Ganhamos dinheiro para gastar, e trabalhamos, fazemos de tudo para ganha-lo de volta, não importa de que forma, a única coisa que importa é que temos que conseguir dinheiro, alimentando cada vez mais esse vazio que sempre fica por preencher dentro de cada um, do qual as pessoas passam a vida inteira tentando preencher. Numa relação onde todos vivem pelo dinheiro e em função do dinheiro, se o dinheiro não for o remédio para cura desse vazio, então ele deve, no mínimo, poder compra-lo.


Um ótimo dia a todos!