sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Reflexão de final de ano ..

Final de ano. Mais um grande –se não o maior- motivo de minha cautela acerca dos homens. Ou talvez, melhor seja, acerca da civilização. Muito me admiram os exemplos de benevolência, amor e compaixão que são característicos desta época, muito embora uma boa parte dessas manifestações esteja mergulhada em uma expressão estritamente hipócrita, quase que num ato de penitencia às más interações ocorridas no decorrer do ano. Que serão essas manifestações, um pedido de perdão? Ou talvez uma chance de se redimir, ou pelo menos redimir a própria imagem dos estigmas da tirania e do egoísmo próprios dos demais momentos do ano? Pois bem, diante disso nada melhor do que uma boa fatia de décimo terceiro para entorpecer todo esse remorso; todos aqueles sentidos que condenam e dificultam a ascensão de um indivíduo sobre o outro e, em função do outro, em busca da “auto-centralização”, derivada do que Nietzsche descreveu como “vontade de poder”, característica intrínseca da natureza humana.
Pois é, ainda herdamos muito de nossos ancestrais. A natureza humana é indubitavelmente competitiva, e quem sabe não o seja, peculiarmente nesses últimos tempos, com um “quê” de especial. Passamos o ano inteiro tentando passar uns por cima dos outros, muitas vezes até sem saber que o fazemos, já que isso é não só uma característica da nossa sociedade mas uma exigência, e quem sabe até uma “lei de sobrevivência”.
Então quando chega o final do ano, pedimos perdão em forma de compaixão, solidariedade, todas aquelas incontáveis virtudes e finalmente, de maneira indispensável para qualquer celebração de final de ano bem sucedida ... os presentes ... Para que enfim possamos iniciar novamente mais um ano iníquo e perverso, porém com a consciência um pouco mais limpa .. rs
Afinal, o que tem a dizer um mero estudante de psicologia acerca do que é a natureza humana? A pouco tempo ouvi uma expressão que, particularmente nessa ocasião me despertou um interesse especial; “A felicidade contagia”. Perguntei a mim mesmo se a colocação correta não seria “A felicidade incomoda”. Sim, é verdade, a felicidade incomoda, e na medida em que pessoas aparentemente felizes incomodam pessoas infelizes, criam-se ideologias e representações sociais taxativas afim de tornar tal felicidade em um conceito de infelicidade e derrota. Imaginem se todas as pessoas se sentissem completas e auto-suficientes, o que seriam das nossas incontáveis instituições, que por assim dizer, vendem a felicidade?

Programa do Ratinho – Apresentação 21/12/2009
Menino faz cirurgia de correção das orelhas.

Para ser bem breve, durante o programa (o qual vi superficialmente, porém vi o suficiente) o apresentador promove uma cirurgia de correção de orelhas para menino que hipoteticamente deveria ter as orelhas “incorretas”. O programa ridiculariza explicitamente a característica física do garoto pré-cirurgia, e após a cirurgia faz diversas piadas extremamente pejorativas acerca de tal característica e o que é mais gritante, na legenda do quadro estava escrito algo parecido com “garoto faz cirurgia e resolve o problema”. Como é fácil resolver problemas não é verdade? Basta ter dinheiro ou ter a honra de ter o “problema” resolvido pelo apresentador de um dos programas mais deploráveis da nossa televisão brasileira. Muito me admiro que esse apresentador, o “solucionador de problemas” não tenha solucionado o problema de seu próprio nariz que toma a maior parte das atenções reservadas à totalidade da sua cara de verme, liberando e compartilhando seus excrementos com seus fiéis telespectadores.

A verdade é que para sermos “civilizados” temos que ser entorpecidos. A sociedade capitalista meritocrata precisa continuar fazendo sentido. Ela não pode fazer sentido apenas para os burgueses (o que é muito simples, visto que esses são criadores e donos desta sociedade e de todos os méritos a ela atribuídos), mas ela precisa fazer sentido para todos os demais indivíduos das demais classes, inclusive àqueles que possuem problemas semelhantes ao “problema da orelha”. Mas como fazer sentido a todos, se a sociedade é feita para a elite? A única maneira de fazer com que ela faça sentido a todos os demais é; entorpecendo todos os demais! Programas como o citado acima contribuem de maneira essencial para que as classes mais baixas e oprimidas, ao ligarem a tv, fechem a janela para toda a exploração e demagogia dos que as oprimem e mantenham o foco de suas atenções no espetáculo que as entorpece. Enquanto isso, os que cuidam da nossa “justiça”, libertam bancários subornadores, médicos estupradores e se abstém de fazer a “justiça” valer para aqueles que estão acima da lei e guardam dinheiro nas cuecas e nas meias, ao mesmo tempo em que a população se abstém de olhar para tudo isso. Afinal, é natal, tempo de paz, tempo de alegria, tempo de recesso.

“Sobre a hipótese de que, em liberdade, Abdelmassih poderia continuar praticando crimes, Mendes afirma que os argumentos apresentados se baseiam em "mera especulação", já que o médico teve o registro profissional suspenso.” Folha de São Paulo - Sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Interessante como quando se tem dinheiro as coisas se tornam tão simples não é? Gilmar Mendes concede abeas corpus para o médico estuprador e fala na impossibilidade dele “continuar praticando crimes”. Isso quer dizer que ele não precisa pagar pelos crimes cometidos, ele só precisa não continuar praticando. Bom, diante disso só se pode concluir que alguém está sendo muito bem pago por esses crimes, rs .. Ainda bem, não é Gilmar Mendes, que a sua mãe não se consultava com Abdelmassih, assim fica mais fácil tapar o sol com a peneira.

Mas enfim, de que importa tudo isso? Agora, neste momento temos uma mesa farta com aves enormes, um grande suíno assado, todos os outros componentes desse lindo banquete e um pinheiro enfeitado cheio de presentes em seus arredores. Enfeita esse pinheiro, além de diversos apetrechos coloridos e piscantes, algodão, bastante algodão por entre seus galhos. É um pouco estranho, visto que nevar, sobretudo nesta época do ano é uma coisa da qual não me lembro de ter ouvido indícios aqui no Brasil. Mas de que importa?... O que importa é que é lindo .. sim, sim .. como é lindo, tudo é lindo!

E você, já fez suas compras de natal?
Corram, o tempo está acabando ..

Um feliz natal a todos!

Um comentário:

  1. Por mais espinhos que uma rosa possa ter.
    E por mas feridas ela possa a minha mão causar.
    Eu ainda ei de gozar de seu aroma e beleza.

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